II Vivências – Festival do Cancioneiro Universitário
30-10-2024
II Vivências – Festival do Cancioneiro Universitário
Se a palavra que define um primeiro festival é “novidade”, a que define um segundo é “implementação”. A realização do II Vivências – Festival do Cancioneiro Universitário, pela Literatuna – Tuna de Letras da Universidade do Minho, nos moldes que foram propostos na primeira edição, é uma prova da vitalidade desta tuna minhota e, também, dessa implementação de que falámos, que sedimenta no panorama tuneril da Academia Minhota o lugar do seu inovador festival. Recordando a novidade do Vivências no panorama minhoto: para além de concorrerem tunas das três tipologias – uma mista, uma masculina e uma feminina –, o foco é o Cancioneiro Universitário, e a contribuição que as tunas a concurso fazem para o seu desenvolvimento.
Implementadas ficaram também as Rondas, não obstante a constante ameaça de chuva que em outubro faz questão de sobrevoar a cidade de Braga. As Rondas partiram da Junta de Freguesia de São Vítor, onde as tunas participantes foram recebidas com um Verde de Honra, e culminaram no Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Minho para uma serenata final de cada tuna, incluindo a serenata da tuna anfitriã, claro. À semelhança da edição anterior, para além da participação das três tunas a concurso, a Augustuna – Tuna Académica da Universidade do Minho participou extraconcurso, mantendo a homenagem que a tuna organizadora faz do modelo de Rondas que vigorou nas primeiras edições do Magna Augusta, o festival da Augustuna.
Já a noite do festival foi realizada no Auditório do Centro de Juventude de Braga, tendo-se dado o início do espetáculo às 21h. Nesta edição, a apresentação ficou a cargo da tuna organizadora, que proporcionou alguns momentos muito interessantes que criaram uma interação com o público como este repórter poucas vezes viu, algo que deve ser destacado. Destacado também serão alguns desses momentos, começando pela abertura, que ficou a cargo de alguns elementos da Literatuna, que interpretaram com vários cordofones os temas “Giga de Braga” e “Tico-Tico no Fubá”.
O concurso em si foi aberto pela VicenTuna – Tuna de Ciências da Universidade de Lisboa, que se destacou logo pela apresentação muito criativa que entremeou os temas interpretados por esta. A primeira música foi, então, “Leitaria Garrett”, de Vitorino, que contou com um intermezzo em que os elementos da tuna recriaram de forma muito criativa e original os sons típicos do Chiado no início do século XX. Depois da interpretação do tema “Mar Desconhecido”, dos Pink Martini, que contou com uma bonita harmonização entre uma solista e um solista, a VicenTuna interpretou o seu tema instrumental, “Tanto Mar”, adaptação do tema de Chico Buarque, destacando-se as coreografias de bandeiras. O tema original desta tuna lisboeta foi o animado “Sina do Estudante”, tendo-se destacado as coreografias de pandeiretas. Encerrando a sua solidíssima atuação, a VicenTuna interpretou uma adaptação de “Xácara das Bruxas Dançando”, tema dos Trovante, também muito bem coreografado.
A segunda tuna a concurso foi a Tuna Feminina de Medicina da Universidade de Coimbra, que se apresentou a concurso com um repertório exclusivamente composto por temas originais. A TFMUC abriu a sua prestação com seu animadíssimo original “Tuna”, destacando-se a coreografia de bandeiras que o acompanhou. O segundo tema foi o também animado “Caloiro”, acompanhado de uma bem executada coreografia de pandeiretas, ao qual se seguiu o bonito tema de solista “Cidade de Amor”. Depois da interpretação do tema instrumental, “Pó de Estrelas”, também ele bastante animado, a TFMUC encerrou a sua atuação com o tema “Em Pedaços”, seguido do tradicional Efe-Erre-Á, não fosse a TFMUC uma tuna de Coimbra.
Depois de um intervalo de 10 minutos, o espetáculo foi retomado com o sorteio das rifas, do qual se destaca mais um momento interativo em que, sendo chamado alguém do público para fazer o sorteio, os apresentadores da tuna organizadora, não fizessem eles parte de uma Tuna de Letras, dissertaram sobre a definição de “idóneo”, tendo acabado por conseguir colar ao jovem do público, que pertencia a uma tuna, o nome do antónimo “inidóneo”, num momento muito humorístico e bem-disposto.
As atuações foram retomadas com a atuação do Sina – Grupo de Fados da Associação Académica da Universidade do Minho, como grupo extraconcurso, que interpretaram diversos temas do Fado, destacando-se as interpretações dos temas “Trova do Vento que Passa”, “Estranha Forma de Vida”, interpretado eximiamente pela solista, e uma adaptação muito bem-disposta do “Fado do Estudante”, entre outros clássicos.
Antes de entrar a tuna seguinte, o momento de apresentação destacou-se pela interação com o público num pequeno jogo, de seu nome “Pimba ou Poesia”, que convidava a audiência a adivinhar se, à leitura de uns versos, se estariam perante uma letra de música pimba ou perante um poema, que conseguiu umas belas gargalhadas do público e proporcionou mais um momento de boa-disposição.
A encerrar o concurso, a Tuna de Contabilidade do Porto apresentou-se logo com pujança, interpretando a sua adaptação de “Vinho do Porto”, de Carlos Paião. Seguiu-se uma bela interpretação do tema original de solista “Carta à Solidão”. O tema instrumental, muito bem executado, consistiu na adaptação da música “Tango dos Malandros”, de Rodrigo Leão. Depois de uma interpretação inspiradora da versão italiana de “Parla Piú Piano”, de Nino Rota, em que definitivamente se destacou a prestação sólida do solista e do arranjo do acompanhamento coral, a TCP encerrou a sua atuação com uma animada interpretação do tema “Sentir o Sol”, dos Quatro e Meia. Transversalmente à atuação da tuna, não podemos deixar de elogiar as coreografias de bandeira e de pandeiretas, que foram exímias na sua coordenação e execução.
Antes da entrada da tuna anfitriã, outro momento de gargalhada geral com uma apresentação por parte dos caloiros da Literatuna, que decidiram apresentar um teatro ao estilo dos Jogralhos, com leitura de poemas humorísticos, música e boa disposição e interação com o público.
Chegou, então, a vez da atuação da Literatuna. Mantendo o repto de acrescentar, a cada edição, um contributo ao Cancioneiro Universitário, a Tuna de Letras abriu uma atuação que pode ser descrita como muito sólida, com a estreia do seu novo original, “Canções do Cávado”, um tema com uns arranjos muito interessantes. De seguida, foi interpretado o contributo da edição anterior, “Flor Silvana”, música de solista, mas que, diferentemente da versão anterior, contou com os vários naipes vocais da Literatuna a criar aquele efeito de eco a que aludimos na reportagem do I Vivências. O tema instrumental, que já tem sido recorrente nas atuações da tuna organizadora, de seu nome “Mar Alto” (composta por partes originais, partes da música tradicional “Farol de Montedor” e partes do tema de Fausto Bordalo Dias, “Como um Sonho Acordado”) também foi solidamente executado, devendo nós destacar a coreografia de bandeira que tem acompanhado este tema, que é uma belíssima coreografia. De seguida, a Literatuna apresentou uma adaptação do tema “Canção de Madrugar” – na opinião deste repórter, talvez a melhor adaptação de uma tuna deste tema –, com música de Nuno Nazareth Fernandes e letra de José Carlos Ary dos Santos, tema de solista do qual se destaca a prestação da solista e da interação entre a voz principal e as vozes corais. Depois da entrega de prémios, a Literatuna deu por encerrado o II Vivências com o seu animado tema original homónimo, “Vivências”, que contou com coreografias de pandeiretas e bandeiras.
A distribuição dos prémios terminou da seguinte forma:
Melhor Coreografia – Tuna de Contabilidade do Porto
Melhor Solista – Tuna de Contabilidade do Porto
Melhor Instrumental – Tuna de Contabilidade do Porto
Melhor Atuação – VicenTuna
Tuna do Público – Tuna de Contabilidade do Porto
Tuna Mais Tuna – TFMUC
Grande Prémio Letra de Prata – Tuna de Contabilidade do Porto, com o tema “Carta à Solidão”
Encerrado o festival, a festa prosseguiu para o Bar Académico de Braga, onde foi entregue o prémio de Tuna Mais Tuna.
Retomando a nossa divagação inicial sobre as palavras que definem as edições dos festivais, se nos for permitida a futurologia, a terceira edição de um festival, correndo tudo bem, será definida pelo termo “consolidação”. E é precisamente isso que nos resta desejar à Literatuna, e ao lugar particular que começa o seu festival a ocupar no panorama tuneril nacional.
Artigo: Gonçalo Martins de Matos