Sabes porque há Tunas nos Países Baixos?

16-05-2024

Sabes porque há Tunas nos Países Baixos?

O caso holandês é deveras curioso, por inusitado, pois começa não por inspiração de uma tuna espanhola que se tivesse deslocado àquele país, mas pelo fascínio que dois holandeses sentiram em Espanha, nos idos dos anos de 1960.


Como conta um dos impulsionadores do movimento no país das tulipas, Piet Schoenmakers, em Agosto de 1964, dois amigos estudantes da Universidade Técnica de Eindhoven passavam as férias de Verão em Lloret de Mar, na Costa Brava espanhola. Uma noite, por mero acaso, avistaram um pequeno grupo de tunos que faziam serenata a umas raparigas inglesas. Mais tarde foi-lhes oferecido, por raparigas espanholas, um disco com os temas Fonseca e Debajo de tu ventana. Regressando a Eindhoven, foram incluídas as letras destas canções nos folhetos a entregar aos novatos, que chegavam à Universidade Técnica, vertidas para flamengo por amigos comuns que falavam espanhol, para que fossem compreendidos pelos holandeses.


O disco em questão tocou tantas vezes nessa recepção ao caloiro, que o tema Fonseca viria a tornar-se, inclusivamente, o «hino» do curso de 1964, pois todos a conheciam e todos a sabiam cantar. Na última noite desse período de recepção ao caloiro, um estudante levou alguns mala burra a fazer uma serenata, apenas com os dois temas que conheciam, e a capella, à mulher de um executivo da «Philips», tendo a experiência sido a precursora da fundação da Tuna Ciudad de Luz.

 

Enquanto os instrumentos – enviados por tunos de Madrid – não chegavam, os elementos da tuna tinham aulas de canto com o director do coro da igreja dos estudantes. Os trajes, esses, vieram mais tarde, também adquiridos em Espanha. Esta foi, assim, a primeira tuna universitária holandesa, a Tuna «Ciudad de Luz», criada à imagem e semelhança das tunas espanholas, usando traje idêntico e interpretando peças do mesmíssimo repertório. De então para cá, esta Tuna percorreu vários certames em solo espanhol e português e organizou, por diversas vezes, o seu próprio certame de tunas. Desde 1969, gravaram 3 LP, 2 discos de 45 rotações e 2 CD.

 

Recorde-se que, à época, a Tuna espanhola vivia em pleno período franquista (conquanto já em declínio), durante o qual se atingiu o apogeu de produções discográficas de tunas, factor que potenciou a difusão do conceito. Na sequência do exemplo da Tuna «Ciudad de Luz», a Holanda assistiu ao nascimento de várias outras tunas, entre as quais algumas de formação feminina e mista, e que também organizaram festivais e editaram discos. A título meramente indicativo, salienta-se a Tuna de Nimega (antes, Rondalla Comadie – 19??), Tuna Universitária de Maastricht (19??), Tuna Veterana de la Haya (Haia), Tuna de la Ciudad Jarrera – Tilburg (1992), Tuna Femenina Universitária de Leiden (19??), e a Tuniña de Eindhoven (1982).

 

Com maior ou menor adaptação e desvio, foram-se criando tunas, a partir de meados dos anos 90 do século XX, em vários outros países europeus, sempre segundo o paradigma espanhol. Assim, e a título de exemplo, surge, na Bélgica, a Tuna de Bruxelas; na Alemanha, a Tuna Fridericiana de Karlsruhe, a Tuna Universitária de Munique, a Tuna Milenium de Bochum e a Tuna de Gelsenkirchen.


Fonte: Qvid Tvnae, pg.154 e 155