XXVII Trovas, a Reportagem

27-10-2023

XXVII Trovas, a Reportagem

No ano de celebração dos seus 30 anos de existência, o XXVII Trovas, organizado pela Gatuna – Tuna Feminina da Universidade do Minho, decidiu inovar e, pela primeira vez, celebrar a noite de sexta-feira (21/10) com uma Serenata. Com lugar marcado para o Salão Medieval da Reitoria da Universidade do Minho, contou com a presença das tunas a concurso e, em tom de celebração das festividades do 30º aniversário, com as tunas extra concurso – Afonsina, Tuna Universitária do Minho, Coro Académico da Universidade do Minho e Azeituna.



Cada uma destas tunas extra-concurso tocou com a Gatuna temas do repertório da anfitriã. Durante o resto da noite, o público, juntamente com as tunas, fizeram a festa, abrigados da chuva, no Largo do Paço ao som de guitarradas, cantos acapella, brindes e danças. E foi neste espírito que a festa prosseguiu, pelas ruas do centro, até ao AfterParty no Bar Académico de Braga onde a festa continuou até fechar.

 

No Sábado deu-se então o tradicional festival a concurso, com a abertura assegurada pelo Coro Académico da Universidade do Minho, a Tuna Universitária do Minho como tuna extraconcurso, a dar o mote após o intervalo, e com apresentação dos Jograis Universitários do Minho. De lembrar que o tema deste Trovas é “TV”. Com um repertório a intermediar o erudito e o popular, com José Afonso a fazer, naturalmente, a ponte entre os dois, o Coro Académico da Universidade do Minho (CAUM) deu início à noite com uma apresentação sólida. Foram destaques naturais a interpretação da Vaca de Fogo, dos Madredeus, e da Moda do Chapéu ao Lado, uma canção tradicional.

 

Após uma passagem também pela Ala dos Namorados, num arranjo fresco e interessante, o Coro terminou com uma adaptação de um tema de Daniela Mercury e com o seu staple “A Gente Vai Continuar”, do enorme Jorge Palma, num bem preparado remate para sua atuação. Antes da primeira tuna a concurso, teve lugar a primeira intervenção dos Jogralhos, numa sátira ao voyeurismo disponibilizado por canais de (des)informação 24 horas, e com um aviso importante sobre as suas perniciosas consequências: a tentação de querer apimentar o conteúdo a fim de aumentar as audiências, e deixarmos de conseguir distinguir o que é realidade e ficção. Foi a atuação da noite deste grupo, pelo menos em termos de conteúdo, claramente em topo de forma.

 

O espetáculo prosseguiu com a Tuna Feminina do Orfeão Universitário do Porto, que abriu com um coral de Pobre Mi Negra, um original de Carlos Gardel. Foi um dos pontos altos da atuação, devido em particular a alguma desafinação na secção instrumental da Tuna no restante da performance. Na primeira música entende-se, mas é também para isto que servem os apresentadores: entreter o público enquanto a Tuna (re)afina; foi uma pena, porque a TunaF serviu sem dúvida os arranjos mais apetitosos do concurso. Da atuação da primeira Tuna a concurso podemos ainda destacar a prestação coreográfica, tanto a nível de pandeiretas e estandartes, e a prestação das duas solistas.

 

Depois de um momento da Gatuna com os Jograis (e um voluntário forçado da Azeituna), em interação com o público, seguiu-se a Tuna Feminina de Medicina da Universidade de Coimbra, a dar o mote com uma música original (como todas, como sempre nos dizem as Tunas de Medicina de Coimbra…) que intercalava secções corais e instrumentais. Foi um início tremido, com insegurança rítmica, mas depois daí foi sempre a subir em termos performativos, em particular o tema Feitiço de Amor, bem montado e com uma letra interessante (e livre de clichés!). De realçar ainda a ideia de incluir alguns memes na apresentação que, não tendo tido a melhor execução, foi a ideia mais original que se viu em palco em termos de adaptação ao tema deste Trovas.

 

Após o intervalo, e uma segunda intervenção dos Jograis, tocou a Tuna Universitária do Minho que, à semelhança do outro grupo da casa extra concurso, manteve a qualidade do festival com uma atuação à sua imagem: firme e segura. Abriram com Terras de Portugal, seguida de uma adaptação de Silencio, original dos Buena Vista Social Club. Terminaram com Adeus é Sempre Adeus e Boémia, o seu ex libris. Nada a apontar aos Vermelhinhos, tendo cumprido a sua função de dar o mote para a segunda parte do espetáculo.

 

Subiu depois a palco a tuna vinda mais de longe, a Tuna Feminina do Instituto Superior Técnico, que abriu também com um coral, desta vez uma adaptação própria do tema de abertura de Game of Thrones / House of the Dragon, com letra dedicada ao tema do festival - foi, aliás, assim que a Tuna articulou os vários momentos da sua atuação, com pequenos interlúdios musicais com texto de apresentação cantado. Após a abertura, foi sólida a interpretação de Saudade, um original da tuna que ficou na cabeça após o término, bem como de Canção de Alterne, tema de solista, e que pecou talvez apenas por uma interpretação menos aguerrida por parte da mesma do que esta canção em particular pedia. Destaque ainda para a articulação das pandeiretas desta tuna que, pese embora os esquemas não sejam os mais arrojados, cumprem impecavelmente a nível de sincronia entre os muitos elementos em palco.

 

Saindo de palco, deram então lugar à atuação da Tuna anfitriã, que apresentou logo à cabeça o videoclipe de uma das canções mais notáveis dos tempos recentes da Gatuna, Saudade do Fado, que recebeu merecidos aplausos por parte do público. De igual forma meritória foi a sua interpretação de E Depois do Adeus, uma música que na Academia Minhota já possui uma notável interpretação por parte da Azeituna; a Gatuna não se coibiu (e bem) de tornar a música sua, abrindo logo com uns acordes vocais muito jazz fusion (Adam Neely!), e com um arranjo original, que pecou só por curto - ou pelo menos assim pareceu.

 

Prosseguiu a atuação com a estreia de dois temas: um medley instrumental de temas inspirados pela cultura pop portuguesa, nomeado Pátio, e um original novo, chamado Nostalgia, um tema que faz jus ao nome: equilibra-se perfeitamente entre uma toada um pouco de mágoa (e mesmo assim esta palavra é demasiado forte), mas tendo um ritmo divertido e alegre. Espero que se venha a ouvir mais vezes, à medida que se vá consolidando no repertório da Gatuna.

 

Antes dos prémios, houve o brinde da noite: a versão ao vivo de Saudade do Fado, com a presença da bailarina do videoclipe, Rosália, e que recolheu aquilo que me pareceu ser os aplausos mais vibrantes e generosos do público, tanto a meio da performance como no fim, e com razão: o tema foi o momento artístico alto da noite.

 

Para rematar a noite de espetáculo, a música de que eu, a título pessoal, mais gostei de ouvir, porque é um tema que muito se destacava na Gatuna, que eu conheci quando entrei para o mundo das Tunas, e que me leva de volta para lá: Pensando em Ti. Foi um excelente ponto final para a atuação do Trovas dos 30 anos da Gatuna. Saindo do Theatro Circo, o ambiente era claro: o desejo da continuidade deste projeto assim, com verve e vontade de trazer coisas novas cá para fora. Ficam aqui os nossos parabéns.

 

José Pedro Rodrigues e Ivo Mesquita