XXXVI FITU “Cidade do Porto”
19-10-2022
Já Agustina Bessa-Luís nos lembrava que "O Porto não é um lugar. É um sentimento." e por mais vezes que o PortugalTunas regresse ao Porto, continuamos a entrar em casa surpreendidos com a cidade Invicta.
Um festival de tunas nunca se tratou apenas de um agrupamento de malta preparada para dar voz a umas quantas canções, com um repertório estudado e apresentá-lo em palco, para logo partirem. Não. Um festival de tunas é a forma mais certa e próxima de garantirmos que as novas gerações passam os nossos conhecimentos e a paixão por este mundo.
Aqui devemos ceder a ansiedade de subir ao palco à de conhecer outras pessoas que partilham os mesmo gostos, de escutar o que o que as outras tunas têm feito e estudar os próximos caminhos a seguir: seja para melhoria da própria tuna, como para o traçar de um novo percurso nesta tradição.
O passado fim de semana de 15 de outubro serviu para nos lembrar que é disto que se trata, que há muito mais para lá da apresentação pública das tunas. E, de regresso àquela que será sempre a sua casa, o Coliseu do Porto, voltamos a celebrar a festa mais antiga do mundo tuneril português: a 36.ª edição do FITU "Cidade do Porto", com organização do Orfeão Universitário do Porto.
De volta ao festival mais antigo do país.
Com quase todos os setores esgotados e repletos de estudantes que, mais uma vez, mostram que o Porto é uma cidade sem igual, foram 7 as tunas nacionais e internacionais que subiram a palco, numa festa que começou ao início da noite para só terminar já de manhã, nas instalações da sede do Orfeão Universitário do Porto.
A abertura do espetáculo cabia às meninas de malmequer amarelo preso ao cabelo: a TUNAF - Tuna Feminina do OUP, claro está. A tuna feminina mais antiga de Portugal encantou o público com a "Canção do Mar", entoada em parceria com o Grupo de Fado de Lisboa do Orfeão Universitário do Porto.
De voz afinada e de palco bem composto, fizeram-se ouvir ainda canções como "Praias de Lisboa", o instrumental "Perestroika", "À beira-mar" e, como não podia deixar de ser, o seu hino "Serenatas", com os elementos mais antigos a juntarem-se em palco às novas gerações.
Do coração do Porto até à Margem Sul, cabia à anTUNiA ser a primeira tuna a concurso nesta edição. Com claras dificuldades técnicas que marcaram todas as apresentações desta edição, os estudantes de Almada brindaram a plateia com uma pletora de originais, entre os quais, "Mar de saudade" e "Voz de Almada", e com um instrumental de elevado nível de execução, "Concerto em lá menor", de A. Vivaldi.
Há muito que a anTUNiA nos conquistou com os seus originais, que mostram que a tradição foge para um interpretação mais aproximada às músicas pop atuais, do que aos repertórios já muito interpretados de artistas como Zeca Afonso, Variações e tantos outros. Será este o novo caminho das tunas portuguesas? É tema para debater numa outra ocasião.
Com a sua interpretação de "O Tejo corre no Tejo", poema de Alexandre O'Neill, com adaptação de Carminho, a plateia fazia ouvir o seu aplauso, encantada com uma brilhante interpretação das pandeiretas e com as coreografias de bandeira apresentadas.
Vinda da cidade que acolhia a 36.ª edição do FITU "Cidade do Porto", a Tuna de Engenharia da Universidade do Porto fez as honras da casa ao pisar o palco do Coliseu. Os engenheiros apresentaram um alinhamento que foi desde Portugal, com canções como "Festa da Vida" e "Porto na Memória", ao outro lado do Atlântico, com a já conhecida versão de "Índio do Brasil".
Houve ainda tempo para passar pelo México, com uma estreia absoluta nos palcos nacionais, com a nova adaptação de "Danza de Gardenias", de Natalia LaFourcade, numa homenagem ao folclore latinoamericano. De destacar ainda o instrumental "Danzón n.º 2", que, em comparação com o último Herminius onde tivemos o gosto de assistir à TEUP, nos revela uma tuna mais coesa e que parece mostrar que este pode ser o ano em que voltamos a vê-la disputar os prémios mais aguardados.
Vindos diretamente do nosso país irmão, Espanha, tivemos o gosto de ouvir (ou tentar ouvir, já que o som, mais uma vez, não estava nas melhores condições) a CUBU - Cuarentena de Burgos, fundada em 2009, que, como os próprios fizeram questão de mencionar, tinham estado presentes na primeiríssima edição do FITU "Cidade do Porto" - então na Tuna de Obras Públicas daquela cidade espanhola.
Como típico das apresentações de tunas internacionais, esta foi pautada por muito boa disposição em palco e uma grande interação com o público, em particular na canção "La Ovejita Lucera". Já com "Bella Enamorada", o público deixou-se conquistar pela voz imponente do solista, que teve direito a uma das maiores ovações da noite. "El Cha ca ca del tren", ou "El camino de la noche" e a conhecida "María portuguesa" foram outras das músicas que nuestros hermanos entoaram no palco do Coliseu.
Após um curto intervalo, chegou a vez da TAB - Tuna Académica de Biomédicas mostrar que não estava ali para grandes brincadeiras. Com um leque de músicas de diferentes ritmos e vozes bem afinadas (possivelmente as melhores da noite), destacaram-se com "Contra-tempo" ou "A morte saiu à rua", mas também com o hino à cidade: "Cidade do Porto", que fez saltar, literalmente, o público das cadeiras num verdadeiro comboio que percorreu as filas da plateia. Já com "Corazón espinado", uma das melhores tunas da noite arrancava inúmeros aplausos e uns quantos suspiros de um público bem familiarizado com a TAB.
A fechar as atuações das tunas a concurso, esteve a Hinoportuna - Tuna Académica do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, que se apresentou com a qualidade que há muito se tem mantido coerente nas suas apresentações públicas. Com uma atuação consistente e coreografias de estandarte e pandeireta bem preparadas, que acabaram mesmo a ser as premiadas da noite, os vianenses apresentaram clássicos como "Maio Maduro Maio" e os originais "Balada ao Vento" "Amor de Perdição" e "Entre o Samba o Fado".
Não é por acaso que a Hinoportuna consegue arrecadar várias vezes o prémio de tuna do público, já que a juntar à alegria contagiante do Minho, ainda somos muitas vezes surpreendidos com convidados especiais durante as suas atuações e no XXXVI FITU "Cidade do Porto" não foi diferente. O público foi verdadeiramente ao rubro com a "Chula da Meadela", durante a qual subiram ao palco elementos do Grupo Folclórico das Lavradeiras da Meadela, para dançar o vira e tornar a performance ainda mais popular.
Para encerrar com chave de ouro, não podia faltar a atuação dos anfitriões da noite, a TUP - Tuna Universitária do Porto. A demonstrar o porquê de o Orfeão Universitário do Porto ser um dos grupos que temos de preservar com todas as nossas forças, pois muito ensina mesmo a quem não pertence à cidade invicta, foi com canções como "Carvoeiras" e "Venezuela", que ficámos todos colados às nossas cadeiras. A chuva ouviu-se e sabíamos o que estava para chegar: o monumental êxito "Timor", que arrepia até os mais insensíveis.
Na sua interpretação, seguiu-se o revisitar de "Guantanamera" (com direito a um steel drum em palco!) e por fim, a incontornável "Amores de estudante", cantada a uma só voz por todo o público e tunas presentes.
Quantos aos prémios do XXXVI FITU "Cidade do Porto", que por vezes são difíceis de interpretar já que fogem ao "habitual" dos outros festivais de tunas do país, distribuíram-se da seguinte forma: Melhor prestação vocal - TAB; Melhor prestação Instrumental - TEUP; Melhor coreografia - Hinoportuna; Melhor arranjo musical - anTUNiA; Grande prémio XXXVI FITU - anTUNiA.
E agora? Já contamos os dias para uma nova edição....