XXX FITU "Bracara Avgvsta": A reportagem
14-09-2021
forçados a parar por causa de uma pandemia global, reinou a incerteza. Com a gradual retoma de atividades e de alguma normalidade, ainda assim ficaram algumas dúvidas:
Seria possível regressar aos festivais de tunas? em que moldes? seria possível regressar o modo de vida tunante?
A resposta a estas questões surgiria agora novamente com este evento - e depois de em plena pandemia o OUP ter levado a palco o 34º FITU "Cidade do Porto" em Outubro do ano transacto, com assinalável sucesso.
O anseio e a expectativa vibravam pela audiência das Serenatas à Cidade de
Braga, que dariam abertura à XXX edição do FITU Bracara Avgvusta. As tunas
regressavam às atuações presenciais e o público também, depois de quase dois anos paralisados.
As Serenatas decorreram no Salão Medieval da Reitoria da Universidade do
Minho, e coube à Afonsina - Tuna de Engenharia da Universidade do Minho, enquanto tuna extraconcurso, a abertura das mesmas, destacando-se da sua excelente prestação a sempre sólida "Lenda da Fonte".
De seguida, entraram as tunas a concurso, com exceção da anTUNiA - Tuna de
Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Em primeiro atuou a Tuna de
Peritos de Málaga, destacando-se a sua interpretação do tema "Silencio".
Em segundo lugar atuou a Tuna de Medicina do Porto, destacando-se a apresentação de um excelente tema acapella, inspirado no Cante Alentejano, de seu nome "Penedo do Abutre".
Em terceiro lugar atuou a Tuna Universitária de Aveiro, destacando-se a interpretação do Fado coimbrão "Lá Longe" com ritmos de Bolero. Por fim, competiu à Tuna organizadora o encerramento das Serenatas, destacando-se da sua prestação a sempre belíssima "Tunalmente Molhado".
No dia do Festival, o programa prometia alguma normalidade, nomeadamente
com o almoço-convívio e o tradicional Batismo dos Caloiros da TUM. Ambos foram
realizados, mas dentro das inevitáveis limitações: o almoço-convívio decorreu ao ar
livre, no Parque da Ponte de Braga, e o Batismo teve de ser mais breve para evitar
ajuntamentos significativos.
Chegada à noite, o Grande Auditório do Altice Forum Braga fervilhava de
antecipação. O regresso das Tunas ao palco prometia. Mas não só das Tunas, uma vez que a apresentação inicial e final ficou a cargo dos Jogralhos - Grupo de Jograis
Universitários do Minho, como é tradicional no FITU.
Competiu à Azeituna, extraconcurso, a abertura da XXX edição do FITU. Entre
outros, a Azeituna apresentou dois temas do seu mais recente disco, "Quase Perfeito", instrumental, e "Ovo de Colombo".
A primeira tuna a concurso foi a anTUNiA, que abriu a sua prestação com o
tema "Mar de Saudade", seguindo-se o instrumental "Concerto para dois Bandolins em Sol Maior", interpretação do terceiro andamento do "Concerto para dois violinos em Lá Menor", de Vivaldi. De seguida, foi interpretado o sempre espetacular tema "O TejoCorre no Tejo", adaptação da música de Carminho com o mesmo nome, ao qual se seguiu o tema de solista, "Dona do Meu Fim". A anTUNiA encerrou a sua firme atuação com a animada "Rastos de Sabor" e com "Senhora do Mar".
A segunda tuna a concurso foi a Tuna Universitária de Aveiro, que abriu a sua
atuação com o seu lindo tema "Barco de Aveiro". Seguiram-se o tema instrumental
"Mare Vatti" e o tema "Nada Cessa o meu Sofrer". Para encerrar a sua atuação, a TUA interpretou a sua interessante adaptação de "Os Fantoches de Kissinger", de Zeca Afonso, e o tema "Amor à Beira Mar".
A terceira tuna a concurso foi a Tuna de Medicina do Porto, que começou a sua
atuação com um tema muito interessante, de solista, intitulado "Caronte", seguindo-se o seu tema instrumental, "Palladio", adaptação da obra de Karl Jenkins com o mesmo nome. Após a interpretação de mais um tema de solista, "Conquista", seguiu-se a sempre espetacular "Valsa pelo Meu País". Seguiu-se o tema "Di Quella Pira",
adaptação da ária com o mesmo nome, de Giuseppe Verdi, destacando-se o solista
que lhe deu voz. Para terminar a sua prestação, a TMP interpretou o seu sempre
alegre hino, "Noites de Ronda".
A última das tunas a concurso foi a Tuna de Peritos de Málaga, que começou
por apresentar um tema instrumental inicial, passando de seguida para "Adiós a la
Llanera". De seguida foi interpretada uma adaptação de uma valsa peruana, intitulada "Que Nadie Sepa Mi Sofrir", terminando a atuação da tuna malaguenha com uma sólida interpretação do tema "Luna de España".
Antes da entrada em palco da tuna anfitriã, serviu a apresentação dos
Jogralhos, satírica como sempre, para fazer também uma merecida homenagem em
palco ao seu membro fundador Kim Mendes, desaparecido em fevereiro de 2020.
Encerrando, então, o XXX FITU, deu-se a atuação da Tuna Universitária do
Minho. Começou pela interpretação do tema de solista "Dó Menor Entunado", ao qual se seguiu uma adaptação de "Tanto Mar", de Chico Buarque. Seguiu-se o seu primeiro original, "Gerês Tónico", sempre belo, a meio do qual a Tuna aproveitou para agradecer a dois grandes amigos, os quais nomeou Tunos honorários: o antigo reitor da UM, António Cunha, e o fotógrafo Alberto Queirós.
Retomada a atuação, seguiu-se a esta uma estreia em palco de um tema em espanhol composto pela TUM para a sua digressão por Espanha, "Sevilhanita". Antes de seguir com o seu potentíssimo instrumental "Partizan", deu-se um momento solene em que a Tuna homenageou o seu tuno Banessa, desaparecido em abril deste ano. Para encerrar em grande a sua atuação, e a XXX edição do FITU Bracara Avgvsta, a TUM interpretou o seu ex libris, "Boémia".
Os prémios ficaram distribuídos da seguinte forma:
Melhor Solista - anTUNiA
Melhor Bandeira - TMP
Melhor Pandeireta - TMP
Melhor Instrumental - TUA
Tuna do Público - Tuna de Peritos de Málaga
Melhor Serenata - TUA
Segunda Melhor Tuna - anTUNiA
Grande Prémio FITU Bracara Avgvsta - TUA
Tuna Mais Tuna - TMP
Festival realizado, as ilações que puderam ser retiradas deste FITU apontam
para que seja, de facto, possível retomar alguma da atividade das Tunas,
nomeadamente os festivais. Muito limitados no que toca a Passacalles ou os after
parties, mas a parte musical em si pareceu ser perfeitamente concretizável. E é isso
mesmo que desejamos, com o regresso gradual à normalidade, é que o espírito não
esmoreça e resista a estas adversidades.
Gonçalo Martins de Matos