Conversas à Lareira com....Tiago “Short”

28-02-2016

Conversas à Lareira com....Tiago “Short”
PortugalTunas:  Como "jurássico", qual a tua análise ao actual panorama tuneril nacional? Que pontos podes abordar sobre?

Com esperança, e ao mesmo tempo algum receio.
RECEIO porque os ideais "tunescos" destas novas gerações são demasiado fugazes e passageiros. Por vezes julgo que voltámos aos anos 90 em que a boémia era mais importante que uma boa apresentação em palco, mas é apenas porque as gerações mais novas de tunos não dão a importancia e valor que nós dávamos ao nosso pequeno mundo das tunas e às nossas tunas mais em concreto. Há demasiados elementos que apenas ficam na tuna 1 ou 2 anos e achamo que o trabalho desenvolvido não vale o esforço. ESPERANÇA porque sou optimista e acredito que a escalada positiva na qualidade musical e cénica das tunas irá continuar a existir. Terá de ser mais lenta pois houve um salto muito grande e muito rápido do 8 para o 60 (ainda não chegámos ao 80) mas acredito que irá continuar. O fim anunciado do mundo das tunas está cancelado devido a ter surgido talvez a mais polémica das iniciativas das tunas... o universo competitivo. Para muitos é mau mas acredito que é esta competição que nos faz ainda querer evoluir no bom caminho e, de certo modo, a unica razão para muitas tunas ainda não terem desaparecido. 
 
 
P - Que diferenças de monta existem, se é que existem, face aos teus tempos de estudante?

São muitas, imensas. É estranho imaginar esta dicotomia mas a realidade é que nós viamos a tuna muito mais como uma brincadeira, mas no entanto eramos muito mais dedicados à causa "tuna" e à musica em si. Havia um enorme orgulho em criar originais, qualquer momento de subirmos a palco era aproveitado, e mesmo qualquer momento em conjunto num tasquinho ou mesmo na rua era aproveitado para cantar e tocar. Eramos capazes de percorrer 400 km (sim, chegámos a ir da Guarda a Beja, jantar, tocar beber uns copos e voltar para casa ainda nessa noite) para ir actuar a uma semana académica e voltar na mesma noite, ainda por cima apenas em troca do jantar e uns finos.
 
Hoje nada disto acontece, há mais eventos e com muito melhores condições para os tunos. Agora dão-nos comida e dormida para um fim de semana. Já não temos de ir tocar de graça a uma terra a 100 km só para podermos subir a um palco. Tocamos nas melhores salas do país, mas também temos muito mais qualidade nos espectaculos que apresentamos. Mas as mentalidades também mudaram. Há menos apoios mas também há menos dedicação, talvez um em consequência do outro e vice versa. Mas algo mudou, na minha opinião para melhor. Cada vez mais há tunos antigos (como eu e tantos outros) que se mantêm nas tunas ou apenas ligados às mesmas como conselheiros. Isto faz com que a experiência intergeracional possa ser aproveitada no momento e não apenas partilhada por histórias.
 

P - A Música, sendo a matriz da tuna estudantil por génese, teve ou tem para ti que relevância no contexto da tuna?

A tuna não tem sentido sem a música. Uma tuna é e sempre será um agrupamento musical e é esta a sua característica mais importante. Tuno é sinónimo de músico.
Sempre existiram e existirão tunas que dão mais importancia à boémia e diversão do que à musica, mas são essas mesmas tunas que encontram a extinção num mais ou menos curto espaço de tempo. As que continuam saudáveis são as que evoluiram musicalmente e é essa evolução dentro da múscia que nos faz ficar e aguentar tantos anos. TUNA É MÚSICA
 
 
P -  Que caminho ou caminhos vês a Tuna nacional a trilhar?

Num futuro próximo vejo, com tristeja, o desaparecimento de cada vez mais tunas. Umas por falta de elementos, outras por falta de apoios. Mas vejo também as que se aguentarem a conseguirem meter pedra e cal nas suas fundações e ganhar o respeito da comunidade e da cultura portuguesa. Esse respeito porque tanto lutamos e que nos é sonegado por certas individualidades e pseudo intelectuais.
Tudo isto vai trazer, a meu ver, mais qualidade às tunas restantes, vai trazer-nos a institucionalidade que almejamos e que já tem por exemplo a Tuna Universitária do Porto ou a Infantuna Cidade de Viseu. Tenho esperança que ainda conseguiremos ser aceites como "cultura" e que consigamos ser um bem imaterial protegido pelas nossas gentes e pelos nosso governantes. Mas vejo também um caminho muito duro e pedregosos para quem se quiser aguentar.

No entanto espero ainda aqui andar no dia em que formos considerados património cultural e imaterial da humanidade. O futuro das tunas apenas está dependente da dedicação que cada tuno tiver nos anos vindouros.



Tiago Almeida, mais conhecido por Short.
Topógrafo de profissão, estudou engenharia civil no Instituto Politécnico da Guarda 
Antigo Dux da Academia da Guarda e Membro da "Copituna d'Oppidana - Tuna Académica da Guarda" desde 1996 e mais recentemente, em 2010, a convite de amigos de longa data ingressou no "Real Tunel Académico - Tuna Universitária de Viseu".Criador em co-autoria com outro copituno (Rui "Estica" Morais) do "Oppidana - Festival de Tunas Cidade da Guarda" que já vai na sua 15ª edição e com participação activa na sua organização nas primeiras 10 edições. É Juri habitual de vários festivais espalhados pelo país e espectador apaixonado de Tunas no que gosta de chamar  de "turismo tunante".