Do Respeito à Memória Histórica da Tuna Portuguesa.

21-01-2016

Do Respeito à Memória Histórica da Tuna Portuguesa.
Uma das caracteristicas - pelo menos, deveria - do fenómeno tuneril, e visto na diagonal histórica, para além do vulgar de Lineu naquilo que são pressupostos protocolares institucionais e seu respeito, é o que geralmente resulta daquilo que se chama de memória coletiva.

Noção abrangente mas ao mesmo tempo, devidamente circunscrita. A Tuna tem uma cultura, forma de Estar e Fazer, única. Um desses pressupostos resulta no respeito da memória histórica e daqueles que a fizeram, na sua construção e evolução. E esse legado não é - por força de razão - banal, corriqueiro, mas antes único, devidamente comprovado, esforçadamente dedicado. Não são, por isso, muitos, os que estão e estarão nesse Olímpo, por força do atrás dito, numa galeria ímpar de personalidades, por razões objectivas - e não opinativas. O que os distingue quer em vida, quer após esta, por força do legado deixado aos vindouros.

 
Ilidio Amado, Artur Matias, Julio Santos, Armindo Maia, António Barbas, Artur Pinto da Rocha - entre outros - estão na História Tuneril nacional por motivos óbvios: Fundaram e continuaram tunas no Século XIX e XX em Lisboa, Évora, Braga ou Coimbra, entre outras ilustres personagens que deixaram legado. No Porto, são incontornáveis figuras como Raul Laroze Rocha, Modesto Osório, Belarmino Soares, Paulo Pombo e Aureliano da Fonseca (entre outros), deixando todos eles a sua pegada histórica de forma indelével. Mais recentemente cabe citar ainda António José Vasconcelos e José Frias Bulhosa. Todos os citados, em momentos históricos distintos, foram personalidades fundamentais para que o fenómeno tuneril ainda hoje exista, da forma que existe. São, por isso, parte de uma galeria muito restricta, la creme de la creme, da história da Tuna portuguesa. Algo que deveria merecer mais atenção às actuais gerações porque sem memória, abanar o estandarte da Tradição é absurdo.

Tudo isto para enquadrar o fundamental deste Editorial: Pese as inúmeras manifestações de pesar, merecidas certamente, através dos actuais meios de comunicação em real time, e não obstando a frenética vida quotidiana do Século XXI que temos, não deixa de merecer reparo e para reflexão uma quase total ausência institucional - e aqui ressalva para as que disseram presente - das tunas nas exequias do Dr. Aureliano da Fonseca. Repare-se que digo institucionalmente, o que corresponde a caber aqui duas noções, a da representação institucional de facto e a anterior noção da importância do acto em si mesmo no que se reporta à dignificação do fenómeno. Não sendo uma obrigação de jure das tunas nacionais, nestas ocasiões, fazerem-se representar, resulta óbvio perante a nossa cultura ímpar a importância de moralmente tal ocorrer. Pese admitir dificuldades de vária ordem, resulta também claro que é algo incongruente aludir sistematicamente à Tradição subindo-se a palco e depois, em momentos menos simpáticos (digamos assim) dessa mesma tradição fazer tábua raza. 

Trata-se, simplesmente, de manter a coerência naquilo que somos. E se porventura Tuna é Alegria, celebrar a mesma de alguém que dedicou toda a sua vida em prol da Alegria dos seus contemporâneos e vindouros é igualmente uma importante manifestação de maturidade cultural que, constata-se, ser residual - para muita pena minha. Costuma-se dizer que para a festa todos estamos prontos. Certamente que sim. Mas institucionalmente - e não a titulo pessoal, refira-se, que cabe à consciência de cada um e sua disponibilidade e distância fisica, bem como relacionamento pessoal - deveria a Tuna portuguesa estar num patamar distinto na forma como trata os seus pais fundadores, a quem devemos muito daquilo que somos e fazemos. Não é uma critica, de todo. É uma mera constatação. Que deve ficar, por isso mesmo, ao critério das tunas enquanto instituições que o dizem ser, enquanto cultura que dizem representar, enquanto tunas que actuam como tal, que alegam amiúde representar as suas instituições e cidades: As representações oficiais e oficiosas também comportam estes momentos. Deveriam, pelo menos.

Fica o mero apontamento de consciência - e não uma critica sequer. Bem sabemos que atravessamos tempos estranhos, onde alguns nem a sua própria memória institucional respeitam, que fará a dos outros. Mas ainda assim, insiste-se no apontamento.