Em Linha com.....Luis Fernandes

12-12-2011

Em Linha com.....Luis Fernandes

 

 

[PortugalTunas] : Como vês as tunas nacionais actualmente? O caminho percorrido é gratificante?

[L.F.]: Actualmente vejo que as tunas nacionais a tentar sobreviver às mudanças que se observam e sentem a nível económico, social e acima de tudo, de valores no nosso País.
Se por um lado, se vêem muitos jovens de tenras idades (17 e 18 anos) a entrar no nosso mundo, por outro, rapidamente desaparecem ao fim de um ano dado que, na maior parte das vezes, não se observa um acompanhamento e ensinamento mais constante e assertivo, por parte dos mais antigos.
Porém olhando para trás, evoluímos muito, tornando-se assim sem dúvida nenhuma, um caminho gratificante. Fica, no entanto, aquele pequeno amargo de boca, pelos nossos colegas que desistem porque não querem ou podem contribuir para este crescimento. Aliás, a nível logístico, seria engraçado se todos ainda cá estivessem; imaginem tunas com uma média de 100 elementos em palco.


Até que ponto é pertinente a edição de um livro sobre Tunas estudantis em Portugal? Ou seja, será que esta obra de autor(es) terá mais repercussões para lá do seu próprio habitat?


Alguém tem que dar o primeiro pontapé de saída. É impensável que a nossa história não seja contada ao mundo. Portugal é um dos países mais admirados no estrangeiro, a nível de tunas. Contudo, os meios de divulgação do nosso passado eram, até à edição deste livro, inexistentes. Toda a informação era veiculada, maioritariamente, oralmente e sem provas documentais. Com este livro, temos todo um percurso da história das tunas, baseada em informação fidedigna, seleccionada criteriosamente.Como tal, trata-se de uma lufada de ar fresco, uma mais valia para todos os tunos portugueses, que têm amigos de outros países, grandes apreciadores das tunas portuguesas e, naturalmente, sequiosos de informação sobre nós.
Este livro será, então, um documento que lhes permitirá conhecer um pouco das nossas tradições e diferenças, face a outras realidades tunantes principalmente em Espanha e América Latina. Nestes países nota-se uma curiosidade crescente sobre nós, de tal forma que me atreveria a afirmar que para eles, nós somos o ex-libris dos países que têm a tradição de tunas.

 


A Tuna Lisboeta "tem muito que se lhe diga"?? Se sim, o que dirias? Consegues definir rapidamente o que é a Tuna em Lisboa?

 


Têm muito para dizer, porém pouco para contar. Muitas das tunas lisboetas vivem resguardadas nas suas faculdades, dificultando o conhecimento da realidade lisboeta.
Posso, no entanto, verificar alguns pequenos factos. Cada vez mais, surgem tunas mistas, algumas femininas e raras ou nenhumas tunas masculinas. Este é um sinal inequívoco que as tunas mistas reinam a nível de quantidade.
Lisboa é uma das cidades mais ricas a nível musical e mais cantadas a nível mundial mas, na minha humilde opinião, não se justifica a vontade que existe nesta cidade em tocar estilos e músicas diferentes e, esta característica está patente nas tunas lisboetas. Felizmente ouve-se muita e boa música na capital portuguesa.


Musica acima de tudo?? Sim ou não??? E porquê???


Nunca esquecendo que somos um grupo de estudantes que se dedica à música, para mim é fundamental aliar a qualidade musical à amizade e cumplicidade entre todos os elementos de uma tuna. Se algum lado tiver que vencer, que seja a amizade já que com amigos é sempre possível irmos mais longe e superar as dificuldades humanas, organizacionais e artísticas podendo desta forma, dar continuidade ao trabalho na tuna.

 


Há, no teu entender, um cavalgar da história das tunas mais antigas nacionais e por aí se ficam ou, pelo oposto, esse cavalgar deverá ser acompanhado por uma efectiva postura vanguardista a todo o momento?

 

Neste momento acho que existe um estagnar por parte das tunas mais antigas, salvo raras excepções. O que eu quero dizer com isto é que ,se por um lado os seus historiais são riquíssimos, já por outro lado as suas atitudes são saudosistas e muitas vezes fechadas para com as restantes.

Quantas vezes vem à baila numa conversa entre diferentes tunos, que determinadas tunas têm uma atitude elitista e mais fechada em determinados eventos? São muitas as que se escondem no seu suposto passado e poucas inovam com laços de fraternidade e sã convivência, passando a imagem a tunas mais novas que este é o comportamento correcto.


Reitero a minha ideia que as tunas têm que divulgar a boa música, aliada a um espírito académico saudável, sem corridas e atropelos para obter prémios e onde tudo vale pelos prémios. Há muito tempo que deixei de ver actuações de algumas tunas de referência, primeiro porque já as ouvi umas 100 vezes, depois porque pararam no tempo a nível musical. Não há nenhuma novidade e interrogo-me como conseguem ir motivados para um ensaio sem objectivos novos.


Sei que é uma luta para colocar uma música nova, mas acredito que se pode actualizar, anualmente, o repertório com duas músicas novas, bastando dois ensaios semanais. Vale-nos um público amante dos nossos eventos e claramente distraído! Mas será que esta distracção vai perdurar?

 

Como vês o cenário a nível nacional, saindo um pouco da capital?

 

Por acaso, vejo um cenário actual risonho. E existem várias tunas a trabalhar e a tunar muito bem fora de Lisboa. Coloca-se a questão relativa à permanência dos liders nas suas cidades ainda mais uns anos. No litoral as dificuldades nível de emprego já são grandes, então no interior muito mais e aí sim temo pelo futuro de todos. Não obstante este receio, sou optimista e quero acreditar que pelo menos em 2012 ainda as tunas portuguesas vão estar a laborar na sua máxima força.

 

 

Que caminhos vês, hoje, para a tuna estudantil portuguesa? E porque razões trilharão este ou aquele caminho?

 

Considerando a conjectura actual, as tunas deparam-se cada vez mais, com a falta de apoios por parte das instituições. Deste modo, adivinham-se tempos difíceis e para fazer face às despesas inerentes aos gastos pessoais, eventos e instrumentos, creio que a tuna estudantil portuguesa voltará à sua base que é de tocar na rua. Chama-se ao presente, a tradição secular dos sopistas. Vamos, sem margem para dúvidas, enfrentar uma mudança: agradável para uns, surpreendente para outros.

 

 "Assim mesmo é que é" ou "a História da Música"??? Que preferes??

 

Eu prefiro a História da Música num bom teatro com um excelente sistema de som, mas o Assim mesmo é que é, na rua, inexplicavelmente, agrada muito mais aos estrangeiros/portugueses e consegue angariar muito mais dinheiro. São dois estilos distintos mas perfeitamente adaptáveis aos dias de hoje, conforme o local onde se toque.
Tal como referi anteriormente, a minha preferência e motivação recaem pela História da Música, pois tem um grau de dificuldade maior e revejo o esforço empregue nas inúmeras horas de ensaios da EAISEL para que esta música tivesse vida própria.

 

Finalmente, como vês o PortugalTunas e sua missão informativa e formativa. É relevante? Como, onde e porquê, em caso afirmativo.


O PortugalTunas faz parte do nosso quotidiano. Por um motivo ou outro, muitos são os que o visitam para saber o que se passa pelo País, se bem que poucos contribuam para o seu crescimento.

Por mais que falem desfavoravelmente, a verdade é que todos o consultam e todos gostam de ver o seu nome nele referenciado, principalmente quando se trata de elogios. Importa a imparcialidade de quem escreve e o discernimento de quem lê de modo a todos saibam aceitar os comentários que aí são feitos. A título de exemplo, eu sei que não faço parte de uma Estudantina de anjinhos, mas sei que é com vontade e garra que mostramos quem na realidade somos e o que de bom temos para dar e mostrar.


Por isso, temos todos obrigação de continuar a trabalhar por um Portugaltunas melhor e principalmente por um Portugal melhor no nosso pequeno mas extraordinário mundo tunante.
Reconhecer os nosso erros e tentar melhorar é o caminho certo para um futuro risonho para todos.

 


[ Esta entrevista foi realizada por RT em 11/12/2011, em linha. Pode ser visualizada iguamente no Facebook do PortugalTunas ]