Da notoriedade das Tunas

09-12-2011

Da notoriedade das Tunas

 

Dou frequentemente comigo a pensar acerca de quanta gente conhecerá, de facto, as tunas a que pertenço. Não o faço para satisfazer a minha vaidade pessoal, já que o prazer que retiro de a elas pertencer não depende do nível de reconhecimento que as mesmas granjeiam ou não. Mas fico curioso, sem dúvida. Qual será o grau de notoriedade da tuna X (seja ela muita ou pouca e, para qualquer um dos casos, seja ela merecida ou não) no país? Será que o comum futrica, ou mesmo sendo estudante, sabe trautear uma música dessa mesma tuna? Terá ouvido falar de alguma delas? Conhecerá ao menos o nome da tuna (ou tunas) da sua localidade?

 


As tunas têm público, sabemo-lo. Enchemos auditórios, temos milhares de fãs nas redes sociais e alguns dos nossos vídeos tem milhares de visualizações. Mas quem é esse público? Quem ouve e/ou vê tunas? Faremos nós parte de uma micro cultura com alguns milhares de efectivos que vive encerrada em si mesma, sendo este circulo apenas expandido pelo interesse dos nossos familiares e amigos que ocasionalmente nos acompanham? Ou será o nosso público mais abrangente? E, a haver mais gente que acompanha as tunas nacionais, é esse número expressivo? Conhecerão de facto a cultura tuneril ou apenas apreciam os espectáculos? Será que o interesse se restringe às tunas da sua cidade, sendo assim pouco mais que uma expressão de um certo bairrismo, ou conhecerão de facto o trabalho de tunas de outras paragens? Não há respostas definitivas para estas e outras importantes questões porque o impacto social da nossa cultura não foi ainda devidamente estudado. Há sociólogos que estudam anos a fio micro culturas de reduzida abrangência geográfica e pequeníssima expressão - e legitimamente, claro - mas não há um cientista social português ou estrangeiro que se tenha dedicado ao fenómeno das tunas académicas, até agora. Por que razão? Porque é que a cultura académica nacional, e a tuneril em particular, não desperta interesse suficiente seja em Portugal ou no estrangeiro? E, permitam-me a provocação, haverá mesmo uma cultura tuneril nacional que interesse conhecer a um público mais genérico? Provocações à parte, gosto de pensar que sim.
A minha impressão, limitada evidentemente à apreciação empírica que posso fazer do fenómeno tunante, é que as tunas estão longe de ter algum reconhecimento expressivo no país. Isto não obstante fazerem parte indelével do "património cultural imaterial" de Portugal, um conceito muito em voga por estes dias.

 


Contudo, há tunas com mais de vinte anos de existência e, mais notavelmente, sempre com uma qualidade consistente ao longo desses anos, que são provavelmente menos conhecidas que uma qualquer banda pop/rock obscura da década passada, ainda que esta não tenha tido nenhum grande êxito ou se tenham separado depois de um ano de actividade.


Como é isto possível? Afinal, estamos numa era em que os meios audiovisuais estão ao alcance de qualquer um, em que o custo de gravação, edição e gravação de álbuns são relativamente acessíveis e em que há uma miríade de canais televisivos, de internet e rádio onde se poderia divulgar o trabalho das tunas. Por outro lado, nunca houve tantas tunas com um nível de qualidade apreciável como há hoje, com repertório tão ecléctico e com gravações tão cuidadas.
Que razões se poderão então apontar que justifiquem o actual panorama?

 

Estará o problema no repertório? Na imagem? Na sonoridade? Na falta de novos lançamentos discográficos? No preconceito? A um elitismo que nós próprios cultivamos? À nossa tendência festivaleira e pouco virada para outros palcos? É um problema do nosso amadorismo? De não ser possível haver uma identificação do público com os intérpretes, dado serem muitos e mudarem com frequência? Haverá muitas mais tunas de qualidade musical inferior e que dão mau nome àquelas que procuram a excelência? Ou serão as tunas e a sua música, por melhor que seja, simplesmente pouco apelativas ao grande público? Já agora, por que razão?

 


Perdoem-me por fazer tantas perguntas sem sugerir nenhuma resposta concreta. Mas entendo ser pertinente abordar estas questões para que possamos situar e ponderar o lugar da tuna na cena cultural nacional. Tenho a certeza que as tunas continuarão no futuro, e tenho dúvidas que fazer concessões ao comercialismo por um lugar ao sol seja uma boa aposta. Mas temos que nos interrogar se queremos que o grande público continue a ter uma visão distorcida, enviesada, reduzida e caricaturada daquilo que somos, como acontece hoje.

 


NHF - "Sir Giga"