Conversas de Verão com João Freitas
01-07-2015
Bom, desde já o meu agradecimento ao Portugaltunas pela oportunidade de publicamente expor alguns pensamentos sobre esta matéria, para mim tão grata.
Quanto à questão em concreto, o panorama tuneril nacional apresenta uma determinada consolidação de projectos, uma formatação organizativa e uma certa acomodação musical.
Por partes:
As diferenças são tantas, que teria ficar para outra oportunidade falar deste tema. Em poucas linhas dizer que a responsabilidade com que se encara a tuna é diferente. Há uma grande preocupação em transmitir para o público uma imagem muito diferente daquela que se passava em 1993 ou 1994. Nessa altura tínhamos em Portugal, 10 ou 15 tunas que o que faziam era bom, tanto em termos musicais como em termos organizativos. Hoje esse número subiu exponencialmente e a imagem da tuna que tão degradada foi ao longo dos anos está novamente a ser credibilizada. Mas ainda há um longo caminho a percorrer, que passa sobretudo pelo incremento musical, pela responsabilidade que com se encaram os compromissos e mais importante do que tudo perceber que a actividade da tuna tem um público, e é para com o público que temos ser dignos e credíveis.
Se falarmos em 1992/1993, quando comecei, tenho que ser sincero e dizer que a música era um componente entre vários, mas certamente não era o mais importante. Hoje a realidade é distinta, e não concebo a tuna sem encarar a música como sendo a mais relevante componente da sua actividade. Hoje em dia felizmente há no panorama nacional, excelentes tunas, excelentes executantes, e é delicioso ouvir uma tuna quando esta interpreta bem aquilo que apresenta. A sonoridade de uma tuna é única, aprende-se a ouvir e a gostar, como tal torna-se mais fácil ao fim de 15 ou 20 anos sermos críticos. Nesse sentido e repescando o pensamento do ponto anterior, por vezes sentimos que há tunas que se esquecem que em primeiro lugar uma tuna é uma instituição musical, e só através da excelência musical é que se consegue cativar um público. A irreverência própria da juventude por vezes é transportada para dentro da tuna, e se não existir um equilíbrio entre essa irreverência e um determinado racionalismo de conduta assiste-se a espectáculos menos dignos, mais pobres, que em muito prejudicaram a tuna durante anos como já anteriormente referi. Penso que hoje em dia há uma maior preocupação neste campo, mais transversal e que é de salutar.
A necessidade de fugirmos do estereótipo poderia ajudar. O modelo dominante da actividade da tuna passa por um calendário de certames como já tinha referido. Tudo é feito a pensar nos 25 minutos de actuação, na qual um regulamento préviocomum a quase todos os certames (com alteração deste ou daquele parâmetro)determina a obrigatoriedade de se apresentar o tema instrumental, o tema de solista, etc, etc. Pergunto se tem necessariamente de ser assim!? Esta formatação em que caímos limita sobremaneira a criatividade. Esta delimitação exígua de parâmetros e critérios avaliativos impede claramente a produção de novos espectáculos. Ainda bem que há tunas, e já dei o exemplo anteriormente, que tentam mudar o paradigma, ainda que não o façam porventura com o objectivo de o transformar de uma forma global. Nesse sentido a tuna tem que ser mais audaz, libertar a sua criatividade em prol de melhores produções musicais, beneficiando claramente quem a observa, ou seja, o público. Penso muito sinceramente que não devemos ficar reféns de regulamentos, ainda que tente compreender que assim seja e que não seja fácil mudar o tal paradigma. Por outro lado, como também já referi, penso que a tuna deve pensar em si como instituição musical, susceptível de ser integradora de projectos de intercâmbio musical, podendo e devendo insistir em criar projectos que não sejam fechados a outras sonoridades ainda que preservando a sua. Por último transmitir sempre aos mais novos, que apesar de a tuna se revelar como elemento congregador, porto de abrigo, espaço de intercâmbio cultural para fazer face muitas vezes a necessidades pessoais, deverá ser sempre, mas sempre, encarada por quem dela faz parte com a maior responsabilidade exigível, só assim a tuna se perpetuará na história.
Um abraço ao PT e votos de sucesso.