A impossibilidade histórica.

15-02-2024

A impossibilidade histórica.

Uma das coisas que mais me fazia confusão – por total desconhecimento e enquadramento, então nos anos 90, era reparar aqui e ali, porque raio as tunas espanholas eram todas vetustas nascidas no Séc. XII e, por cá, eram – quase – todas, nascidas naquela década de 90.

 

Por mais voltas que desse, ficava sempre a questionar-me porque motivos, um fenómeno espanhol de séculos (diziam eles então, nos livretos dos festivais que por cá haviam, basta consultar os mesmos) só tinha chegado a Portugal - paredes meias com eles - nos anos 90 do Séc. XX, ou seja, 800 anos depois. Mistério, seguramente, olhando para a Península Ibérica a nível social e mesmo cultural – já nem falando do contexto histórico entre ambas as nações – bastante difícil de explicar, e pelo menos. A Universidade de Coimbra nasceu em 1290, o que tornava difícil de explicar muita coisa por comparação – por exemplo.

 

Nunca percebi, então, o que levava a tamanha parede de separação, opacidade, desconhecimento, entre um país e outro, numa cultura que, de si, é ela mesma uma festa permanente de contacto intercultural. Como hoje sabemos e bem, a História demonstra precisamente o oposto. Mais: Já então achava estranho que os Tunos portugueses não questionassem tanto século de diferença entre a tuna espanhola e a nossa. No mínimo, bizarro. 800 anos na história dos dois países é demasiado, vamos convir, para ignorar. E mais ainda: Porque razão nos tais livretos dos festivais de então, essas "historietas" só falavam de documentos que nunca ninguém viu e, pior, porque razão se saltava olimpicamente do Século XII para o de XX, sem qualquer actividade registada pelo meio – e estamos a falar, repito, de um intervalo de 800 anos.

 

Quase a roçar o grotesco, vamos convir.

 

Para tal, foi necessário, do lado de cá - e de lá – da fronteira, estudar a História da Tuna, para se perceber, definitivamente, porque razão a Tuna em Espanha, aqui ao lado, tinha – diziam eles… – 800 anos e a nossa - salvo menos de meia dúzia de excepções - acabava de nascer, então. A pergunta, além de legítima, era mais do que justificável, vamos convir- e já naquela altura era.

 

E a verdade é só uma.

 

As tunas espanholas, como as tunas de cá – em menor número – nasceram originalmente apenas nos últimos 25 anos do Século XIX, sendo que a sua esmagadora maioria nasce no pós Guerra Civil espanhola – que decorreu entre 1936 e 1939. Estas, quando por cá se começou a revelar (de novo) o fenómeno das tunas estudantis, foram massivamente convidadas a estar nos nossos certames primeiros. E trouxeram a reboque um enorme romance: Que tinham 800 anos. Ora, tal é rigorosamente falso.

 

Por cá, não se sabia (nem queria saber…) como foram, de facto, as coisas. E, acto contínuo, comemos tudo o que os vetustos espanhóis nos diziam, nos tais livretos de festivais, como sendo verdades absolutas. Ora, não são, nem nunca foram. Tal como as Becas (as verdadeiras) surgiram nas tunas espanholas apenas na década de 50/60 do Século XX. E tantas outras tretas do género, que estão mais do que desmontadas. Hoje, são raras as tunas espanholas que ainda se dizem do Jurássico (?!) tuneril.

 

Assiste-se, hoje - afortunadamente - a uma cada vez maior responsabilidade nos factos narrados, quer nos seus sites quer nas suas redes sociais, onde muitas tunas espanholas voltaram à verdade, colocando as suas datas de fundação de facto, bem mais recentes – e não em datas romanceadas e marteladas a gosto, sem qualquer nexo, factualidade, prova ou ligação de facto com a verdade histórica. Basta navegar na Internet hoje, para se perceber a atualização de muitos desses textos – prova inequívoca da importância do estudo sério sobre a Tuna estudantil. Ao fazerem tal, estão a contribuir para a normalização cada vez maior da verdade, o que per si, constitui uma vitória clamorosa de quem, de forma séria, estuda o fenómeno.

 

E, subsequentemente, tal corresponde a uma maior derrota de todos aqueles que - por motivos claros e outros menos - persistem em manter uma enorme mentira, que é a Tuna nada no Século XII e afins, quando nada há que sustente tamanha falácia.

 

Congratulo-me, pois – mesmo que alguns “forçados” a aceitar a verdade, e perante a força dos factos – pela constatação de tal normalização, que apenas aproveita à Tuna em geral. A sua respeitabilidade passa, precisamente, por esta normalização, que eleva a Tuna em geral - ao contrário dos "romanticos" oportunistas de época, cada vez com menos " adeptos" à medida do andar do relógio, que devem ser denunciados sempre que necessário, porque tal denúncia é prova de vida da Tuna em sentido abstracto.


Como prova final do antes dito, continua a não existir UM texto escrito da lavra desses "romanticos" (nada dados a investigar, apenas a romancear tretas) com provas inequívocas de tal romantismo. Ao contrário, é fácil de provar que a Tuna estudantil apenas nasce em finais do Século XIX. Porque se trata, somente, da verdade. Daí a facilidade.



RT