"Uma Tristeza tão grande nas coisas mais simples que você tocou...."

19-12-2022

 


Não conhecia pessoalmente o Roberto Leão. "Apenas" dos palcos.


E o "apenas" entre aspas, aqui é para lá de propositado.


Quando escutava o Roberto, no palco do Coliseu ou outro, era como se o conhecesse de sempre.


A densidade, serenidade, a pausa, a elegância e até os pequenos gestos que ele emprestava, quando cantava, fosse o que e onde fosse, eram um bálsamo, um revigorante, um virar de página a cada segundo, fosse no "Perdidamente" ou noutro tema qualquer.


Aquelas frases curtas à laia de introito eram, mais que esse mero propósito, o propósito em si, o seu propósito, o statement, a carta de apresentação, o próprio Roberto. Ia muito além do que a mera capacidade interpretativa - e que quanto a mim, uma das melhores que o mundo tuneril português alguma vez teve - passando para a estratosfera da partilha do seu ser, pensar, sentir, capacidade extremamente rara num interprete musical, e mais ainda no mundo das tunas universitárias.


A doçura mesclada com o sentido de oportunidade, sem pretensiosismo, a gestão brilhante do tempo e até do mero silêncio - coisa tão difícil quão rara em música - a dicção inconfundível e os nossos ouvidos a bailar, levando toda aquela emoção ao cérebro mas também, principalmente, aos nossos corações, arrebatados perante tamanha sensibilidade e bom senso.


Eterno. 


Partiu um dos nossos maiores solistas de todos os tempos. A Tuna, hoje, chora. 


Como ele tão bem declamava, cantando Jobim, " Uma Tristeza tão grande nas coisas mais simples que você tocou...."



https://youtu.be/FLgN0I7-g-o 


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