Sobre uma pretensa superioridade do tema Original

22-09-2023

Sobre uma pretensa superioridade do tema Original

"As tunas têm é de compor originais"? Bom. É uma posição, respeitável, mas, infelizmente, sem apoio na lógica nem na tradição.

 

Mas então, senhor orador, os originais devem ser banidos? Claro que não, e temos aqui na mesa dois excelentes compositores, ambos míticos. Não devemos banir os originais. Pelo contrário, devemos acarinhá-los. Mas não há nenhuma razão para que, no contexto de tuna, puro e duro, se afirme que as tunas que só apresentam originais dispõem de uma certa “superioridade moral” face àquelas que só apresentam versões. Não há qualquer razão para que, numa situação de concurso, a originalidade dos temas seja um factor de desempate, por assim dizer. Em bom rigor, para uma tuna, o esforço de “montar” uma versão é equivalente ao de “montar” um original.Se se premiasse uma tuna pelo simples facto de apresentar apenas temas originais, esse facto acabaria, a longo prazo, por se tornar um factor de desvantagem para essa própria tuna: enquanto uma determinada tuna tem o "seu" compositor, tudo maravilha: grandes originais, grandes arranjos para esses originais; uma festa. Mas um dia o compositor sai. E a tuna em questão não consegue arranjar outro compositor como aquele, nem sequer um pálido seguidor.

 

Continua a viver dos originais até se fartar deles e fartar o auditório. Sem soluções, volta a pedir ao mesmo compositor que componha temas, ao que o "nosso" compositor acede de bom grado. Volta a tuna a apresentar grandes originais com grandes arranjos.

 

Mas espere aí, caro amigo ouvinte: estaríamos a premiar a tuna ou o compositor? O mérito dos originais é da tuna ou do compositor? Se estamos a apreciar a capacidade de interpretação da tuna, tanto faz ser de originais como de versões.

 

Vou até mesmo mais longe: é mais fácil apreciar quando há um termo de comparação do que quando o tema apresentado não o tem. A exigência é maior… Ao contrário do que pretendem os defensores da originalidade a todo o preço, é mais arriscado apresentar uma versão do que um original, até porque as comparações são inevitáveis: “Eh!, pá, gosto mais da versão dos Xutos” “Eh!, pá, os Sabandeños tocam isto muito melhor”, e por aí adiante.Que a originalidade tem um mérito, tem, mas é puramente individual.

 

Que a criação deve ser acarinhada e louvada, quando o mereça, é um facto. Mas não há na apresentação de originais outro mérito que não aquele que caiba individualmente ao seu compositor."

 

Dr. Eduardo Coelho, no IV ENT (Encontro Nacional de Tunos) em Viseu (2006)