Noção de espectáculo de Tunas

20-10-2017

Noção de espectáculo de Tunas

Um dos aspectos que, mormente já existir algum histórico, continua em 90% dos certames de tunas a ser o "prato do dia" é a - inexplicável - ausência de noção de Espectáculo. 



A esmagadora maioria dos festivais - e aqui falo apenas no que se reporta ao palco apenas - não possuí qualquer cuidado ou preparação prévia, qualquer cuidado cénico e rítmico e pré-produção do evento propriamente dito.



Convém ressalvar que pode dar-se o caso de quem não o faz procede a tal com total conhecimento de causa, ou seja, opta pela natural "desorganização" deixando correr o evento ao sabor do momento, sem grandes preocupações desta ordem. E tudo bem assim sendo. No entanto, parece que na esmagadora maioria das situações não se trata de opção mas antes de clara falta de noção, conhecimento e consciência. 



Um evento de Tunas é, no palco, antes e acima de tudo, um evento Musical. Logo, pressupõe uma clara noção prévia de preparação, pré-produção, esquematização dos momentos - todos - desde que o pano abre, passando pelo intervalo e terminando com o final do espectáculo.



E é precisamente na parte final - dada a natureza do certame competitivo - que se denota maior debilidade e falhas claras que põem em causa a imagem exterior do próprio evento - e lembro que com os streamings em directo o público vai além do teatro e desse momento em concreto. É quase da praxe a balbúrdia instalada aquando da atribuição dos prémios, vivendo esse momento da mais pura veia invencionista e de "nacional-desenrascanço" onde o "encher chouriços" ganha uma dimensão quase profissional, colocando em causa o ritmo, duração e imagem do próprio evento que até, porventura, aquele momento, estaria supostamente até a correr bem.



Ainda assim, as apresentações são um factor de claro risco quando mal geridas, com apresentadores mal preparados ou de ocasião, o que origina naturalmente situações que colocam em risco - mesmo que hilariantes e no espírito do evento, concede-se - a tal imagem do espectáculo que se fala em cima. Note-se que os intervenientes principais - as Tunas - já fazem a despesa maior e mais saliente do evento (é um festival de Tunas, recorda-se), retirando por tal a necessidade das apresentações oferecerem mais do mesmo que as tunas já oferecem - excepto a música. Todos estes pequenos pozinhos, se somados ao tal momento critico da atribuição de prémios, pode originar um resultado final a roçar o catastrófico - e na maioria dos casos.



As opções são muitas e variadas no que toca ao cumprimento dos vários momentos em causa. Ao fim de alguns anos começa a ser até imperdoável assistir-se a falhas deste calibre, principalmente em certames que contam já com uma dezena de edições ou até mais. Volta-se a referir que pode ser todo esse desenrascanço uma opção e tudo bem. Mas não sendo, parece pertinente a existência de mais cuidado prévio, atenção e produção dos vários segmentos que juntos, compõem o que se chama de noção de espectáculo.



Os ditos certames de referência são precisamente aqueles que têm um trabalho de pré-produção e realização eficaz, onde tudo acontece no tempo certo, previamente definido, em conjugação perfeita com aspectos mais técnicos como a luminotecnia, cenografia (outro aspecto cada vez menos cuidado e cada vez mais dependente do powerpoint) ou sonoplastia, p.ex. São aqueles onde se nota de forma clara que tudo foi preparado. E esses nem 10% são no total dos eventos que acontecem anualmente em Portugal.



Compreende-se a contenção de custos mas a produção de um evento musical pode resultar usando poucos meios. E o trabalho de casa não está sujeito a questões financeiras mas antes de cuidado prévio com o espectáculo. Se assim não fosse o número de certames teria reduzido imensamente; ora, reduziu algo mas outros novos eventos surgiram. Não colhe, portanto, a questão financeira para o observar destas questões. Há mais factores a subsidiar a falta de produção dos eventos de tunas.




As honrosas excepções são, aos olhos do público, uma delícia: Permitem ver e ouvir tunas sem que se saía da sala saturado ou tardiamente. Permite um fluir de uma soirée tuneril como deve ser, sem ofender os nobres ouvidos dos convidados ou a paciência dos mesmos. São produzidos para o Público - e não para as outras tunas ou faculdades ou whatever verem. Estão na lógica de espectáculo - e não na lógica da medição em círculo fechado. Muda tudo.


RT