O barulho do Silêncio

06-03-2017

O barulho do Silêncio
Ainda recentemente fui entrevistado - nos magnificos jardins do Palácio de Cristal com o Douro em fundo - para um documentário sobre a Tuna estudantil, que verá a luz do dia brevemente, entrevista essa que se revelou, pela sua simplicidade e excelente condução, um par de horas muito bem passados a falar sobre a Tuna estudantil.


A dado passo da mesma é-me colocada a questão seguinte: "Porque te dedicas ao estudo da Tuna?". Boa questão.


Como todos os amores, não se explica, sente-se. Todo um clichê. Mas vamos mais adiante. Entendo que é algo que vai de cada um, da forma como encara algo que gosta, preza, cultiva e exerce. A constante insatisfação aguça o engenho na procura de mais e melhor informação sobre esta cultura única. É um gosto, um prazer até, tentar saber, perceber, contextualizar, actualizar informação, saber mais e melhor. É natural.


Aliando a isso um hábito de recolha de peças únicas, de coleccionismo puro, de guarda e tutela de jornais antigos, libretos de festivais, cartões de visita de Tunas, discos em Vinil e cassetes, cartazes de festivais, videos em VHS, emissões radiofónicas, becas de tunas espanholas, bilhetes de certames, credenciais, etc, a procura incessante e interminável de informação é algo que nem sequer se nota porque no sangue está desde há muito. Sempre tive a cautela de guardar esta memorabilia de forma natural, quase instintiva, na certeza de que tal se iria revelar útil - o que se confirma amiúde.


E é da junção destes dois factores - procura de informação permanente + repositório de peças alusivas à Tuna Estudantil - que resulta uma melhor, mais profunda e precisa informação sobre o que foi a Tuna Estudantil, ajudando sobremaneira a entender o que ela é hoje. Não se trata da dimensão do espólio mas antes da sua qualidade informativa e formativa, daquilo que de valor intrínseco realmente ela tem, da informação que dela conseguimos retirar. Se a isso aliarmos as informações em real time, conseguimos numa timeline perceber mais e melhor tudo aquilo que nos rodeia sobre esta cultura.


É esta atenção permanente, até aos mais pequenos e supostos insignificantes detalhes, que cataliza o gosto, a procura da tal informação, a melhor possivel, a mais contextualizada e enquadrada. O que acaba por ser um acto natural para quem o faz desde há 25 anos para cá.


O que induz outra noção: São sempre a mesma meia dúzia que se dedica a este "culto", por assim dizer. Raros são os que se juntam a estes - e que bem vindos são! Contudo, não deixa de ser engraçado constatar que, para lá de poucos e os mesmos, ainda são estes alvo de referências que só podem ser alicerçadas numa profunda ignorância, somada a uma comezinha inveja que de todo se percebe - ou talvez não. Referi precisamente isso na entrevista, aliás.

Mais: Quando instados outros a participar, dando o seu contributo, através de entrevistas, p.ex., via email, com 5 simples questões, em cada cinco Tunos apenas 1 responde às mesmas. E este tipo de "não-feedback" é transversal aos últimos 25 anos.


O que nos leva à constatação final.


Naturalmente, são sempre os mesmos. Lá se junta um ou dois ao pequeno, restricto e, por isso, selecto - no melhor sentido da palavra - grupo e por aqui ficamos. Se a postura destes fosse de clausura, selar portas, de retenção de informação, de guarda tumular, ainda se compreenderia alguma inveja aliada a desinteresse. Mas não, de todo. Partilha-se, procura-se opinião de outros, dá-se espaço, tempo de antena e mesmo assim, em cada 5 apenas 1 contesta afirmativamente.


Logo, não pode ser problema da tal meia dúzia. A mesma que mantem sites, portal, páginas no FB, blogues, escreve livros, faz documentários, programas de rádio. É absurdo acusá-los de pro-actividade. A culpa é daqueles que - à boa maneira portuguesa, aliás -  quando instados a dizer como é que se faz, então, fecham-se em copas ou desaparecem pura e simplesmente. Tudo isto após criticarem quem fez, produziu, estudou, partilhou. Até uma entrevista por email com 5 pequenas questões - algo que demora a responder quase tanto tempo como preencher um formulário de compra via internet, p.ex. - acaba por ser complicado. Não se pode, aqui, inverter o onús da culpa.


Foi isto que - também - deixei na entrevista. Um profundo gozo pelo que já foi feito e continua a ser feito sem, contudo, deixar de dizer aquilo que é a realidade. Critica-se muito - como em tudo na vida - mas depois, instados a dizer então "como é?" temos o silêncio como resposta.  


As razões para tal acabam por nem ser o mais relevante; relevante, sim, é constatar que quem mais critica é regra geral quem menos contribuí, de facto, estando sempre ponto para apontar o dedo mas nunca deixando soluções para o que critica. E esta postura não abona, desde logo, ao todo do fenómeno e muito menos ainda à elevação de uma cultura como a tuneril. 


Claro, assim, é evidente que restam os mesmos. Naturalmente. Os tais Michael Collins a que já me referi.


RT