Sobre o surgimento da Tuna, Sopistas, Goliardos, Jograis e Pandeiretas

27-12-2016

Sobre o surgimento da Tuna, Sopistas, Goliardos, Jograis e Pandeiretas
SOBRE O SURGIMENTO DA TUNA ESTUDANTIL.


Diz-se amiúde e ERRADAMENTE que a Tuna ESTUDANTIL tem a sua origem no Século XIII e mais longiquamente até, no Século IX. 


Não, de todo: As Tunas não surgiram no Século XIII, nem de perto nem de longe: A Tuna enquanto instituição nasce apenas na segunda metade do Século XIX.


Tuna estudantil, ou seja, tal qual a vemos hoje, uma Instituição estável, hierarquizada, sob entorno de uma Instituição universitária, com permanência no tempo e no espaço, o que se chamará de Tuna-Instituição - como bem define o famoso Historiador e Advogado Galego Baldomero Cores Trasmonte [vide “A tuna de Santiago” (Santiago de Compostela: Fundación Caixa Galicia, Editorial Galaxia, 2001] apenas surge no final do Século XIX.


Antes, existe o hábito de “Correr la Tuna” - e não Tunas conforme hoje as vemos. Resultaria fastidioso explicar detalhadamente tal distinção. Cito, para lá do supra mencionado Baldomero Cores Trasmonte, alguns outros reputados autores sobre a matéria que já amplamente discorreram sobre tal distinção - como Rafael Asencio Gonzalez, Roberto Martinez del Rio, entre outros, todos eles unânimes quanto a esta questão.



É, pois, lógico, que sabendo-se de tal distinção que a mesma dever ser feita de imediato, de forma a não induzir outros que não estarão porventura familiarizados com o tema (a sua esmagadora maioria) em fatal equívoco. 



A dificuldade em dizer que a Tuna nasceu no Século XIII é rigorosamente a mesma dificuldade que há em dizer que nasceu no Século XIX. Ou seja, não abona a favor do fenómeno retroactiva-lo ainda por cima sendo tal comprovadamente falso. Assim, manda o rigor mas acima de tudo, o Bom Senso, que sabendo-se a verdade sobre o tema se o diga sempre que surja a oportunidade e se justifique a pertinência, até porque dá o mesmo trabalho fazê-lo.


SOBRE O GOLIARDISMO, SOPISTAS, JOGRAIS E TUNOS.


A Goliardia foi mais um movimento de contestação do que um modus vivendi, que não teve qualquer expressão na Península Ibérica, então. É amplamente explicado e fundamentado no "Qvid Tvnae" [Paginas 41 a 55] , que por sua vez se fundamentou em variados documentos e de outros tantos reputados e insuspeitos autores.


A não existir imprecisão cronológica - dado que a Goliardia se extingiu menos de um Século depois do aparecimento dos Estudos Gerais/Universidades - o que se verifica antes é uma partilha de lugares comuns de refugio e divertimento. Os Estudantes não eram, na sua maioria, Goliardos, nem se reviam na sua filosofia contestatária e politica, sequer.


Estes ultimos procuravam fugir à rigidez da Igreja; os demais, ao estudo e à pobreza, apenas.

Fica, pois, claro, que não existe descendência mas sim partilha de “gostos”, adopção de práticas, que a marginalidade aproximou e até, em certos casos, baralhou.


Sobre “CARMINA BURANA” - "Canções de Buern":


Mais uma “ponta solta”. Estas “canções profanas para solistas e coros, acompanhadas de instrumentos e imagens mágicas” eram poemas de monges e eruditos errantes e proscritos - os Goliardos - escritos em latim medieval e macarrónico, versos em alemão vernacular com vestígios de proto-francês, cancioneiro dividido por temáticas - religiosa, passando pela sátira e moralidade, de louvor ao vinho ou exaltação do amor, especie de canções de intervenção e contestação politica e de denúncia do estado de coisas.


Os Goliardos seriam na sua maioria sacerdotes ou monges (e não estudantes) - que reivindicavam, contra o poder papal, o direito de casar ou viver maritalmente, ao contrário dos estudantes que indo cursar Estudos Gerais, são meros seminaristas ou filhos de nobres e burgueses. Parecenças, há. Mas só isso.


Alguns autores tentaram recentemente estabelecer laços de ligação e geneológicos directos entre Goliardos e Sopistas. Ficções que procuram conferir uma “descendência” brasonada. Os Sopistas não eram sequer uma classe, é apenas um termo depreciativo da giria estudantil que significava “pobretanas”, “teso” ou “bolseiro” e com o qual se pretendia rebaixar os estudantes que não pertenciam à Nobreza.


O Jogral, mero executante - nunca um compositor - situa-se num patamar inferior ao dos Trovadores por essa mesma razão. Com o declinio do feudalismo e consequente desaparecimento dos laços de vassalagem a um qualquer senhor ou Corte, tornaram-se músicos ambulantes, munidos de liberdade para percorrer as terras, com os seus instrumentos e cantando feitos heróicos ou outras composições de caracter lírico, para poderem assim, impressionar multidões. 


Penso estar suficientemente clara a explicação sobre estas matérias.


Sobre a Pandeireta, o elemento mais antigo que se mantem desde o Século XIII e XIV:


O seu uso corresponde ao ciclo das Bigornias - até Século XIX. O termo Bigorna significa literalmente “bigorna” (do Latim bicórnua - “dois cornos”). Dos estudantes que andavam de terra em terra entre anos lectivos dizia-se que "corrían la tuna" e chamavam-se a si próprios “corredores de tuna”. Grupos mais ou menos espontâneos e fugazes, de objectivos bem precisos, muito embora o termo designasse qualquer grupo de indivíduos (soldados desmobilizados, p.ex.) à cata de sustento com recurso a expedientes que raiavam a marginalidade.


Estas bigornias foram frequentemente retratadas no passado, quer por artistas espanhoís, quer por estrangeiros - como Gustave Doré. Em gravuras aparecem inúmeras vezes com a legenda “los estudiantes de la tuna”, ou simplesmente, “la tuna”. Ora, esta expressão, erradamente interpretada, levou a que se pensasse que “la tuna” era o grupo dos estudantes. Na realidade, a expressão refere-se à forma de vida que esses estudantes levavam, significando “a vadiagem”. 
 
 
Este erro de interpretação tem estado na origem das teses que conferem às tunas uma antiguidade de sete séculos - impulsionadas erradamente sobretudo por Emilio de la Cruz e Emigdio Cano.


RT