"EM ESCUTA"....
19-01-2012
1996.
Já passaram cerca de 15 anos. Ainda hoje é, com toda a segurança, um dos melhores trabalhos discográficos alguma vez feitos por uma Tuna estudantil portuguesa. A qualidade é uma secante que coloca este disco do lado da excelência, o lado - infelizmente - com menos "titulares" de pleno direito a alinhar. É o tal lado que poderíamos, todos nós, dar a escutar a quem quer que seja sem que nos sentíssemos, de alguma forma, constrangidos por algo. É, pois, uma galeria restrita e no que toca a trabalhos discográficos, claramente. Uma galeria com pouca quantidade de actores mas com muita qualidade concentrada, capaz de elevar a tuna a um patamar distinto do mainstream habitual a que - voluntariamente - nos "condenamos".
Dois anos antes da edição deste trabalho já eles tinham deixado um aviso, no Coliseu do Porto, obtendo então o 2º lugar da classificação geral do FITU desse ano. Tuna recente, tinha-se estreado pouco tempo antes. A verdade é que, para quem lá esteve, como eu, facilmente percebe o porquê. Em 1996 dá-se o corolário desse percurso com este CD de titulo homónimo "anTUNiA".
Gravado no estúdio "Sons do Mar" por Paulo Carmona e com masterização de Fernando Cruz, temos aqui logo à partida uma das principais razões de facto para a qualidade desde trabalho. Irrepreensível tecnicamente, onde até podemos, ao escutar, sentir o passar dos dedos nas cordas da fantástica guitarra em "Doce Feitiço", por exemplo, aliás, um dos temas top deste trabalho e, para mim, o melhor bolero original feito alguma vez por uma Tuna portuguesa - e o swing low final é contagiante.... Este tema é, quiçá, um dos exemplos acabados da qualidade técnica de quem interpretou mas igualmente de quem captou, mais do que sons captou sensações que podemos, num bom sistema audio, partilhar com a anTUNia, mesmo 15 anos depois. É uma espécie de Lâmpada de Aladino onde, após esfregarmos a mesma, conseguimos quase sentir os interpretes ao pé de nós. E isso, meus caros, é difícil seja em que CD seja, quanto mais num de tunas.
Depois, la creme de la creme nos temas de maior dificuldade de execução. Fiel à sua historia, lá estão 3 grandes interpretações instrumentais com "Eine Klein Nachtmusik", "Concerto em Bandolim em dó maior" e finalmente "Inverno" de Vivaldi, de irrepressível qualidade, passando pelos dois boleros - o já citado "Doce Feitiço" e "Sonhos" - que são dois exemplos acabados de dois temas originais mas com qualidade, onde mais uma vez a captação e tratamento audio foram de excepção, terminando nos temas mais mainstream como - hoje um clássico - "Fado do Super Zé", "Valsa do Olhar" e "Tango do Bandido", - com uma letra catastroficamente deliciosa... - originais, também eles. Se instrumentalmente é imaculado, vocalmente faltou algo mais para atingir o pleno, o que ainda assim, não hipotecou o resultado final.
A imagem gráfica deste trabalho guarnece superiormente este prato de sabores altamente requintados, que muito deve aos "Druídas" Bruno Rocha, Luís Marques - o fabuloso solista de "Doce Feitiço" - Pedro Raposo e Hugo Neto, capazes então de nos presentear ainda hoje com esta verdadeira poção mágica de bom gosto, qualidade, requinte e essencialmente, de partilha de sensações. Ainda hoje este CD da anTUNia é, seguramente, um produto gourmet numa mesa discográfica tuneril nacional que nos presenteia regularmente, mesmo hoje, com pratos pouco menos que corriqueiros e de paladar sensaborão, dos quais não guardamos qualquer saudade nem vontade de repetir uma 2ª audição. Este "anTUNia" apenas peca por pouco, mesmo com faixa interactiva e tudo....